Passam hoje 80 anos sobre a data histórica que ainda causa sobressaltos aos políticos profissionais desta triste República. Não tanto pelo golpe militar, fenómeno recorrente daquela época, mas pela oportunidade que abriu a um regime autoritário que acabou com semelhantes veleidades. Observemos que em Portugal não existe tradição de mudança pacífica e institucional de regime político. Quando as tensões se avolumam cabe sempre a uma força armada o papel de ruptura. O regime de Abril cresceu ao som das trombetas dos "ventos da História". Finalmente uma revolução iria mudar o homem português, e consagrar-se-ia como algo de extraordinariamente sublime na História de Portugal e do Mundo. O modelo ruiu fragorosamente. O actual regime, vítima das suas próprias contradições, é já um cadáver adiado. Tornou-se insuportável até para muitos dos seus mentores e beneficiários, e não contém alternativas. Alguns sonham com um golpe palaciano que altere a Constituição e abra novos rumos, mas o baixo nível dos possíveis protagonistas não permite grandes expectativas. E há quem não esteja disposto a perder poder e influência no aparelho de Estado sem luta. Vai-se ouvindo falar de golpe de estado como saída para uma situação intolerável. O problema não estará em responder à pergunta de quem o fará? Mas na resposta à questão de quem colocar no poder em seguida e para quê? É o problema da fórmula política. A do Estado Novo esgotou-se e está enterrada. A do poder partidário parlamentar em que a alternância é apenas a continuação da farsa por outros meios está a chegar ao fim. A ausência de fórmula política alternativa será a maior dificuldade e pode propiciar o início de um novo período de experimentalismo golpista. Etiquetas: Portugal, Regime, Revolução |
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