28 março, 2007

Os Grandes e os pequenos Portugueses

O resultado do concurso Os Grandes Portugueses constituiu, acima de tudo, uma manifestação de protesto e de rejeição contra este regime. Uma parte assinalável da população Portuguesa, sente-se há muito esmagada pela imbecilidade militante de uma classe política que se limita a olhar para o seu próprio umbigo.
Manifestações idênticas surgiram com o programa Eixo do Mal, da SIC Notícias, que ao procurar apontar Salazar como O Pior Português de Sempre, apenas conseguiu que os resultados da escolha recaíssem no Mário Soares. Há alguns anos atrás, Salazar já tinha sido eleito como A Maior Figura Portuguesa do Século XX, numa sondagem realizada aqui em terras lusas e divulgada pela SIC. E há mais tempo ainda, quando um dos canais de TV privados pedia aos telespectadores sugestões para o nome da actual ponte Vasco da Gama, surgiu em destaque a sugestão: Ponte Salazar. Campanhas sistemáticas de mentira caem agora por terra.
Os mentores deste regime acreditaram que ao integrarem Portugal no espaço europeu, diluindo a soberania e abandonando os interesses portugueses ao apetite do grande capital supranacional, adquiriram um seguro de vida, garantindo para si o usufruto dos altos lugares do Estado.
Deste modo, o regime ficou fechado. Garantidas as bases eleitorais de apoio pelo controlo dos meios de comunicação, os núcleos duros dos partidos da área do poder podem continuar a designar os lugares elegíveis nas listas eleitorais, nas quais as massas votam, pensando que exercem alguma escolha, estimuladas pela dramatização artificial das campanhas. A fórmula parece perfeita e simples, mas a realidade é bem mais complexa.
A corrupção moral, material, política, espiritual, cobre o regime de alto a baixo. Nada lhe escapa. Inevitavelmente, alastra a toda a sociedade.
Mas além de corruptos, vão ficando no palco do poder os mais incompetentes, alimentados pelas teias dos interesses instalados. O desgoverno torna-se regra. A classe média empobrece a olhos vistos, os pobres são remetidos para a mais negra miséria e ascende uma nova classe de ricos que não criaram riqueza: corruptos, traficantes, agiotas, especuladores. Mesmo para os que construíram a sua riqueza com o espírito empreendedor de pequenos e médios empresários, este regime tornou-se uma ameaça constante.

Artigos relacionados: O Medo de Salazar; O Grande Galo
Foto: 1910, Implantação da República Portuguesa

Etiquetas: , , , , ,

27 março, 2007

«Isto é um voto de protesto!»

Enquanto os comentadores politicamente comprometidos tentam minimizar os resultados da votação do programa Os Grandes Portugueses, vale a pena ver o comentário que o Professor catedrático Raul Miguel Rosado Fernandes, defensor do Marquês de Pombal, fez em directo na final:

«Eu acho que, nesses 41% do Dr. Salazar, eu não sei quantos [votos] são de pessoas que eram anti-salazaristas. Porque isto é um voto de protesto. Ninguém gosta da situação que temos. Ninguém! A corrupção, a falta de governação, os campos abandonados, tudo o que tem sido feito, roer a corda. O que é que vocês querem?! Têm aqui o resultado! Isto é um voto de protesto, e muitos não são salazaristas, de todo!»

Etiquetas: , , , , ,

O código por detrás da votação dos Grandes Portugueses

Esta análise isenta e objectiva dos resultados da votação d’Os Grandes Portugueses é de leitura obrigatória. Foi realizada pelo sociólogo Ricardo Lino Neto e publicada no seu blogue Consumo e Outros Contextos de Poder há dois meses atrás. Aqui fica um excerto:

«A iniciativa da RTP denominada “Os Grandes Portugueses” trouxe algumas surpresas para as almas mais ingénuas e levou a que algumas figuras públicas se escusassem a dar importância à votação. (…) No fundo, cada um destes “grandes portugueses” é, no contexto da votação, uma bandeira e uma mensagem. (…) Então o que representa Salazar, nos dias de hoje, para as pessoas que o seleccionaram no grupo de “grandes portugueses”? Ele é, sobretudo, um símbolo de autoridade e ordem. A sua imagem evoca clareza nos objectivos, capacidade e firmeza na altura de tomar decisões, poder para alterar o estado das coisas e o privilégio dos interesses nacionais em detrimento das conveniências partidárias. (…) É através da imagem de Salazar que muitos cidadãos enviam uma mensagem de repúdio à actual classe política. Uma parte significativa do povo português está francamente desiludida com a estrutura do poder. Ao longo de 32 anos houve um desenrolar de situações que conduziram o regime parlamentar ao descrédito. Uma descolonização que causou um número imenso de vítimas, um PREC que lançou a economia no caos, o assassinato não investigado de um primeiro-ministro, até à sensação de impunidade que o “caso” Casa Pia suscitou, foram alguns dos muitos acontecimentos que abalaram a credibilidade da classe política actual. O pior de tudo é que há muita gente a afirmar a ausência de um rumo nacional. A falta de transparência em diversos processos políticos fez com que surgisse um sem número de teorias sobre uma eventual afinidade entre os governantes e o crime organizado. Daí que o voto em Salazar no programa Grandes Portugueses seja mais uma manifestação de rejeição do actual status quo do que a glorificação do ex-presidente do conselho. O mérito do “sucesso” de Salazar no programa da RTP é inteiramente devido às insuficiências dos democratas. Infelizmente, a maioria dos políticos tem-se recusado a analisar seriamente a mensagem que o povo português lhes está a enviar pela televisão.»

Etiquetas: , , , ,

Maldição?

A eleição de Salazar fez a sua primeira vítima na classe política logo após o anúncio do resultado, em directo: uma deputada entrou em parafuso, tentou despir-se, e começou a desfazer-se em pedaços.

Etiquetas: , , ,

17 março, 2007

Mais uma "confissão"

«Khalid Sheikh Mohammed, de 41 anos, o alegado cérebro dos atentados de 11 de Setembro, terá reconhecido a sua responsabilidade nos ataques. “Fui responsável pela operação de 11 de Setembro de A a Z”, afirmou. Detido no Paquistão, em Março de 2003, e trasladado no ano passado para a base militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba, admitiu a responsabilidade das 31 operações da Al-Qaeda de que é acusado, entre elas duas tentativas de assassinato contra os ex-presidentes dos EUA, Bill Clinton e Jimmy Carter; contra o falecido Papa João Paulo II; contra o World Trade Center, em 1993; os atentados de Bali, em 2002; as tentativas de ataques contra aviões norte-americanos utilizando bombas transportadas em sapatos; e pelos planos para uma nova vaga de atentados contra a Library Tower de Los Angeles, a Torre Sears de Chicago e o Empire State Building de Nova Iorque, entre outros; planos para a destruição do canal do Panamá, do porto de Singapura, assim como de barcos e petroleiros norte-americanos nos estreitos de Ormuz e Gibraltar», etc, etc, etc.

Na mesma “confissão”, Khalid alega também ter sido «responsável pela planificação, treino, acompanhamento e financimento para a Nova (ou Segunda) Vaga de ataques pós 11 de Setembro contra vários arranha-céus, incluindo o Banco Plaza [Plaza Bank], no estado de Washington». Há é um ligeiro detalhe: tal como está indicado no seu site oficial, esse banco só foi fundado em 2006, mais de três anos depois da captura do alegado cérebro da Al-Qaeda… (ler mais no Prison Planet).
Mais uns meses de estadia nesse ou noutro dos centros de tortura do Império, e Khalid estará certamente pronto a aceitar também a responsabilidade pelo assassinato de John F. Kennedy, o fim da Idade do Gelo, o aquecimento global e a planificação do programa da TVI A Bela e o Mestre.
Ler também o Homem das Cidades.

Etiquetas: , , ,

08 março, 2007

Despenalização de furtos, danos e burlas

A classe política propõe um novo pacote de despenalizações, desta vez sem referendo:
«O novo Código Penal prevê que os crimes de furto, danos e burla que envolvam um prejuízo inferior a uma unidade de conta, cerca de 96 euros, passem a depender de acusação particular, o que implica, por parte do lesado, um esforço acrescido para poder punir criminalmente o ladrão: a constituição de assistente no processo e o pagamento das respectivas custas judiciais, perto de 200 euros, ou seja, o dobro do prejuízo.»

É um óptimo 2 em 1: baixa as taxas de criminalidade, porque cada vez menos portugueses apresentam queixa; e combate o flagelo dos criminosos, que deixam de ser perseguidos e humilhados pelos tribunais.

Outra das pérolas que nos chegam quase diariamente é esta:
Portugal entre os países com menos justiça social, mais desigualdades, mais envelhecimento demográfico e mais abandono escolar da UE

Etiquetas: ,

07 março, 2007

As Eufémias

Os saudosistas que no fim-de-semana se manifestaram contra um Museu anunciaram hoje a construção de mais um monumento em homenagem a Catarina Eufémia (com dinheiro público, obviamente), talvez para substituir o que apoiantes do PCP destruíram em 1976.
Mas houve outra Eufémia a ser notícia nesta quarta-feira: «Maria Eufémia já estava pronta para uma cirurgia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que corrigiria um problema de incontinência causado por outra cirurgia realizada no mesmo hospital. No entanto foi avisada por um membro da equipa de enfermagem que teria de regressar a casa. Tudo porque “não havia material cirúrgico disponível” para efectuar a operação. “Não nos disseram mais nada”, afirma Maria Eufémia, que garante que outra paciente que se encontrava no mesmo quarto a aguardar cirurgia foi igualmente encaminhada para casa, também pelo mesmo motivo».
Se o flagelo da Eufémia que vive no Portugal real do século XXI fosse uma “gravidez indesejada”, poderia ter a esperança de vir a beneficiar de apoios médicos como os previstos na nova lei do aborto aprovada hoje no parlamento e, dentro de algum tempo, teria mesmo uma clínica privada disponível para a assistir da melhor forma possível, sem quaisquer custos. Mas como a pobre senhora sofre de um problema de saúde real e imprevisível, chapéu!

Etiquetas: , ,

06 março, 2007

A pergunta do mês

Feita por um santacombense ou, segundo alguma comunicação social, um perigoso «elemento de extrema-direita». Mais aqui.

Etiquetas: , ,