22 agosto, 2006

Censura Simplex

Tenho de dizer que esta notícia não me surpreendeu nada:
«Governo esconde futuros boys, deixando de publicar no Diário da República os contratos de trabalho para a Administração Pública por considerar não ser obrigado por lei.»
O que me surpreende – pela positiva – são artigos de opinião como este, intitulado Censura Simplex e assinado pelo Subdirector do jornal Correio da Manhã:
«A presunção de inocência deve prevalecer até prova em contrário, mas neste caso a culpa está intrínseca na própria iniciativa. Que Governo, em altura de crise e com tanto por fazer, perderia tempo a asfixiar a obrigatoriedade de publicação dos contratos individuais de trabalho da Administração Pública (oásis dos ‘job for the boys’) no ‘Diário da República’ sem ter um profundo interesse? A medida interessa a todos os partidos (…) Nada melhor do que o sol e os incêndios para queimarem da memória colectiva que Sócrates matou uma das últimas formas de fiscalização pública do poder. (…) As nomeações (mais de 2100 só nos primeiros 11 meses) – algumas verdadeiros atentados ao erário público, como a da assessora a quem o Ministério da Justiça paga 3254€ para tratar da página ‘on-line’ – estavam na ‘net’ a um clique de distância. Demasiado perto para um Governo cada vez mais longe do que os portugueses um dia acreditaram.»
O artigo é disponibilizado no site do jornal, onde se podem ler vários comentários de leitores, como este:
«MUITOS PARABÉNS! Já estava a ficar profundamente desiludida e muito mais indignada, ao pensar que ninguém diria/escreveria um texto que se prezasse acerca do assunto, abordando-o do ponto de vista do Povo. Assim, ler este artigo foi uma alegria para mim. Gostei também muito dos comentários feitos ao texto, já que demonstram que ainda há gente neste país disposta a fazer alguma coisa»
O facto de ainda existirem alguns directores de jornais que, por vezes, desligam a propaganda política e dão voz aos verdadeiros sentimentos do povo português, é um pequeno passo em direcção à verdadeira liberdade de expressão (neste momento apenas os que estão no poder têm voz). E é algo extremamente perigoso para esta triste República e para os seus políticos.

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