29 setembro, 2007

Escutas, corrupção e pedofilia

António Ribeiro Ferreira, Jornalista do Correio da Manhã, teve a coragem de indicar os verdadeiros motivos por detrás desta nova revisão do Código de Processo Penal:

«Mendes e Sócrates, ou Sócrates e Mendes são a mesma face de uma má moeda com muito medo da verdade e da Justiça

Sociais-democratas e socialistas fizeram há tempos um Pacto de Justiça que foi amplamente saudado por advogados, juristas, muitos comentadores, alguns observadores e a generalidade dos interessados em que a dita Justiça esteja devidamente controlada e muito bem maquilhada para continuar a enganar o povo e os que ainda pensam que este sítio muito perigoso e cada vez mais mal frequentado tem algum futuro. O Bloco Central assinou o dito Pacto com pompa e circunstância e começou desde logo a trabalhar furiosamente na revisão de leis e códigos, com muitos debates pelo caminho, muita poeira para os olhos e as habituais promessas de pôr a Justiça não só de acordo com a realidade como ao serviço dos pobres e deprimidos indígenas que sofrem tratos de polé sempre que a má sorte os leva a cair em qualquer tribunal.

O primeiro resultado aí está. É o novo Código de Processo Penal, aprovado no Parlamento com os votos do Bloco Central, isto é, socialistas e sociais-democratas, a abstenção do CDS e os votos contra dos restantes partidos. Como seria de esperar, este novo Código foi feito à medida não só dos interesses da classe política, com o Centrão à cabeça, como revela o imenso medo que os senhores que desgovernam este sítio há mais de trinta anos têm de tudo o que possa cheirar, por pouco que seja, a investigação criminal ou investigação jornalística. E é assim que, em pouco mais de cem páginas, o Bloco Central livra da prisão preventiva os corruptos e atira para a cadeia os jornalistas que publiquem escutas telefónicas, mesmo que já não estejam ao abrigo do famigerado segredo de justiça. É evidente que PS e PSD têm medo. Percebe-se porquê. Nos últimos anos as escutas telefónicas foram um autêntico pesadelo para a classe política. O caso Moderna revelou conversas escabrosas, o caso Casa Pia mostrou a face de muitos senhores que andam por aí a fingir ser gente séria, o ‘Apito Dourado’ mostrou que o futebol indígena é um verdadeiro caso de polícia. E, à margem do caso dos sobreiros, soube-se como os políticos se entendem para afastar gente incómoda de certos cargos, como o de procurador-geral da República, e se associam para escolher rapazes ou raparigas da família.

É evidente também que a classe política vive cada vez mais intranquila com o escrutínio da corrupção que grassa impune por este sítio. E como mais vale prevenir do que remediar, o melhor é evitar que os corruptos possam ir parar à cadeia. Mendes e Sócrates, ou Sócrates e Mendes são a mesma face de uma má moeda com muito medo da verdade e da Justiça.»

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