06 dezembro, 2006

A «extrema-direita» Húngara

Para uma parte da comunicação social, qualquer cidadão que se amotine contra um emergente estado policial ou um governo socialista corrupto é um perigoso elemento de «extrema-direita». Um exemplo perfeito desta táctica é a forma como a RTP noticiou as manifestações em Budapeste contra o governo húngaro, no passado mês de Outubro (vídeo em baixo). Os húngaros tinham aproveitado o 50º aniversário da revolução contra a tirania comunista para protestarem contra o seu primeiro-ministro socialista, aquele que cometeu o “erro” de admitir ter mentido para ganhar as eleições (tivesse ele mantido calado e seguido o exemplo do seu congénere Sócrates e também estaria a viver um mar de rosas).

Curiosamente, nesta reportagem da RTP é demonstrado o uso excessivo e desproporcionado das forças policiais, que numa situação apontam as armas a um cidadão desarmado que tenta dialogar. É evidente também o nervosismo e a descoordenação de alguns agentes que aparentam ter pouco ou nenhum treino para estas situações, uma mistura explosiva que resulta em mais feridos e mais violência. Naquele aniversário da revolução os húngaros voltaram a sentir o sabor de um estado policial, enquanto a elite política fez a sua celebração privada (Cavaco Silva e Durão Barroso incluídos) tranquilamente a salvo da nova revolta, onde nem sequer se ouviram os gritos da população.

Mas eis que, num passo de mágica (ou, melhor dizendo, spin), a mesma reportagem transformou largos milhares de manifestantes húngaros em – passo a citar o jornalista da RTP –: «escassas centenas de elementos da extrema-direita, alguns deles pagos ao dia, que vêm para a rua manifestarem-se, e que mantêm acesa, com alguma dificuldade, a chama da contestação». É assim que os pobres húngaros enganados pela classe política são convertidos em «nazis». Ainda por cima «pagos aos dia» (!) – já agora por quem, e quanto? Até hoje a RTP nunca explicou… Será uma nova profissão?

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